domingo, 26 de junho de 2011

C'est la (fucking) vie

E a bomba finalmente estourou. Havia decidido ter um relacionamento aberto, que raios estava pensando quando decidi isso não sei. Mas tem algo a ver com toda a filosofia de amor livre que poderia muito bem ser aplicada nos dias de hoje, caso isso não fosse um grande tabu. Até o dia em que ele me contou que havia ficado com uma garota do trabalho dele, tudo estava bem. Mas seria assim dali em diante, os dias se resumiriam a pensar se ele estaria transando com outra garota ou não. E poderia preencher todos os espaços com milhões de atividades, que incluíam andar de bicicleta, praticar yoga, jogar pingue-pongue, ler, sair, beber, beber, e beber mais um pouco, mas nada me tiraria o peso de não saber mais onde estava meu chão. E não adiantava ele me falar que o amor esta igual, que na verdade nada mudou entre a gente. Mas não seria uma profunda mudança ele ter a vontade de estar com outra pessoa e por vezes, quando com ela, estar fazendo uma escolha que me exclui da vida dele?

Então la fui eu tentar fazer o mesmo. Duas vezes. Uma com o tal cineasta que é um fofo, tem um papo bacana, mas...nada. Um beijo de boa noite e só. Claro que só fui ter a coragem de fazer algo assim quando já estava de certa forma afastada da situação como um todo. Durante aquele espaço de tempo, na sala de cinema, no bar, ele simplesmente não existia dentro de mim. Meu namorado não era nada para mim ali. Embora eu quisesse estar ali, aquela situação me distanciava mais dele do que se estivéssemos em dois continentes diferentes. Naquela noite voltei para casa e ele estava ali me esperando. Sentado no sofá, mexendo no computador. Perguntou onde eu estava como quem pergunta se esta quente ou frio la fora, e disse que estava no cinema. Como ele havia feito antes, esperei até o dia amanhecer para contar onde e com quem estava, talvez poupando uma noite de sono tranquilo. E qual não foi a minha surpresa (e não foi mesmo) com a reação dele: nula. Contei sobre o documentário que fomos ver, e ele disse que deve ser legal ver um documentário com alguém que trabalha com aquilo e tal. É.

E toda a leveza que eu senti no dia seguinte? É, temo dizer que ela não existiu. Simplesmente ficar com outra pessoa não aliviou o peso de que ele, ao contrario de mim, realmente gostava de estar com ela. Pra mim não fazia a mínima diferença estar com outra pessoa, porque preferia estar com ele.

Da segunda vez encontrei um ex-peguete numa balada, eu sabia que ele estaria la. E gosto bastante dele, temos uma leve história e eu já o magoei no passado. Mesmo assim, queria ficar com ele, já que eu podia fazer isso por que não experimentar de novo? Estavamos na balada e ele não fez absolutamente nada, conversamos, trocamos olhares na música do Kings of Leon e tal, mas ele tinha que ir embora porque o estacionamento fechava as 2h. Depois de algumas cervejas mandei uma mensagem: “Não acredito que você vai embora assim”. E então ele voltou e me deu um tapa na cara. Não literalmente, claro. E nem foi um fora. Mas foi profundo, ele me disse que se existe alguém que quer estar comigo é ele, só que da ultima vez que ficamos eu não tinha colocado um ponto final na minha história com outra pessoa e isso o havia magoado muito. Agora, ele não queria passar pela mesma situação. E eu permaneci muda, realmente não era muito certo o que eu estava fazendo. E ainda quis dar uma de esperta e falei:

- Mas também não sei se você está com alguém.

- Eu não estou.

- Mas eu não tenho como saber..

- Eu não estou. (com uma pausa para cada palavra)

Ok, eu não tinha o que falar mais. Talvez o meu silêncio fosse o suficiente para ele entender. Talvez fosse mesmo porque depois disso ele me beijou. E olha, foi gostoso. Ele disse que precisava ir, levaria o primo dele em casa e voltaria para me buscar. Eu concordei. Depois de algum tempo ele me ligou para perguntar se queria mesmo que ele me buscasse, eu disse que sim. Então paguei minha comanda e saí, ele estava ali na porta me esperando e me trouxe até em casa. Quando subi ao meu apartamento comecei a retornar para a realidade, para a minha realidade. As coisas do meu namorado estavam pela casa, espalhadas. Uma jaqueta, a mala com a chuteira e utensílios esportivos. Não tinha nem como eu dormir com o menino porque o pijama do meu namorado estava na cama ainda! De alguma maneira aquilo começou a fazer cada vez menos sentido para mim. Deve ter sido a noite mais brochante da vida dele, porque eu comecei a desembestar e a falar de como eu gostava de fazer yoga (?). Até um momento que eu disse que estava com sono, ele entendeu e foi embora. Entendeu o que? Nem mesmo eu sei.

E agora você deve estar perguntando sobre o relacionamento (porque não deixa de ser um) que o meu namorado tem com a tal da outra menina. Pois é. Eu também me pergunto. Ela sabe que eu existo, ela até me conhece. E ela, ela gosta dele. Ela manda mensagens para ele de madrugada, me diz se isso não é alguém que quer fazer parte da vida do outro? Me diz se essa mina sabe qual é o lugar dela dentro disso tudo? Ela não sabe, nem eu sei. Talvez só ele saiba. Mas é tão difícil conversar sobre isso, até que ponto eu realmente quero saber o que acontece com eles, até que ponto eu quero ver o amor dele crescer por ela até o ponto de eu não ser mais a garota principal na vida dele? Como é possível controlar o que a gente sente por outra pessoa? Simplesmente não é. Ele pode realmente me escolher e reiterar essa escolha, mas a nossa vida anda um inferno tão grande com as minhas indecisões sobre esse relacionamento que o que eu faço é simplesmente afasta-lo cada vez mais. E me afastar também.

A moral da história não é afirmar se deve-se ou não ter um relacionamento aberto. Mas sim estabelecer regras claras. No fim, ele acaba sendo tão restritivo quando um relacionamento fechado. Apenas ele não enxerga o quanto isso me magoa e o quanto essa dor que eu sinto já não é algo que eu queira aguentar sempre. Talvez ele seja uma pessoa realmente mais evoluída, outros podem chamar de simplesmente sangue-frio, mas não entendo como você pode conviver com o fato de que não é suficiente, de que o amor e o relacionamento que temos não é suficiente para ele e por isso é preciso que ele procure outras coisas em outras pessoas, mais especificamente, prazer em outras pessoas, prazer sexual. Essa resposta ele não tem. Nem mesmo sabe dizer se quer estar comigo num relacionamento fechado, “é uma cobrança que eu nunca faria”, diz ele. Mas e o fato do relacionamento ser aberto, também não é uma cobrança para mim? “Não, pois eu nunca impus isso”. É, Brasil, a vida não é fácil, e a rapadura poder ser doce mas não é mole não. Se alguém aí tiver passado por isso e disser que a dor eventualmente passa, que no fim, depois de 25 anos sendo bombardeada por relacionamentos fechados e por convenções que não nos permitem encarar isso com um sorriso na cara, você aprende a live and let live. Acontece que isso não inclui um live and let the guy you love screw whoever he wnats and be cool with it.

Em nenhum livro estava escrito que o amor deve encerrar-se em duas pessoas, ou que as liberdades sejam cortadas com uma simples palavra: namoro. Mas também não há um livro que diga como agir com tanta liberdade assim. Deve haver um meio-termo, mas eu ainda não o achei.

Um comentário:

  1. Pois é, já dizia a velha musica do Ultraje: Eu quero levar uma vida moderninha...
    Mas nunca é facil um relacionamento, seja aberto ou fechado. A ideia de não limitar o outro é bonita e eu concordo plenamente, porém difícil de ser colocada em prática. Não é uma coisa que dependa de você nem do outro e sim de como os dois funcionam juntos.
    Porém acho que o bacana do relacionamento está justamente no aprendizado, nesse acerto dos ponteiros.

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gritos histéricos