terça-feira, 31 de janeiro de 2012

29 de janeiro de 2012

Era pra ser uma noite de sábado tranquila, apenas um boteco com amigos, até que assim meio sem querer ouço seu nome ser mencionado. Tento descobrir se realmente ouvi o que penso ter ouvido, fazendo o melhor dos esforços pra disfarçar o que não tem como ser disfarçado. “Pois é, ele está na cidade com uns amigos. Achei que não teria problema em chamá-lo para se juntar a nós...”, responde ela, com um sorrisinho irônico, de lado, que prova ter sido em vão todos meus esforços para esconder qualquer possível interesse. A partir daí o coração acelera, sobe pra boca. Nada me distrai do fato de que a qualquer momento você pode entrar por aquela porta pesada de madeira escura. Você. Depois de um ano sem te ver, em alguns instantes você vai cruzar aquela porta e tirar todas as minhas dúvidas. “Será que ele continua magro? Será que deixou a barba crescer? Será que ainda fuma? Será que vai me tratar com o carinho usual ou só como uma conhecida qualquer?” Será, será, será... Nada me acalma. Já vivi esse momento mil vezes na minha cabeça, já decorei minhas falas e as suas, já sei o momento de entrar e sair de cena. Mas quando você finalmente chega, simplesmente não estou preparada. Esqueço tudo o que tenho pra dizer e empalideço. Não consigo dizer nada além de um cumprimento frio e distante. Sim, eu sei que não deveria beber por conta do meu antidepressivo, mas preciso de um drink pra aguentar a noite. Um, dois, três, quatro... Incontáveis drinks se vão pra aguentar sua felicidade sem mim e a minha incapacidade de te dizer o que tenho pra dizer. E é aí que o álcool se transforma em coragem e quando me dou conta lá estou, vivendo o que ensaiei mil vezes no meu mundo imaginário. Mas não sigo o script ao pé da letra. Improviso, digo coisas que não estavam no roteiro original, mas que simplesmente precisavam ser ditas. Porque em todos esses anos, eu nunca disse que te amava, apesar de achar que de certa forma você sempre soube. Do meu jeito, estranho e ferrado, eu te amei. E é uma pena eu ter esperado o fim do fim pra dizer em voz alta. É uma pena que eu tenha me envergonhado de depender de você e ter feito o máximo pra excluir isso de mim. A gente não devia se envergonhar do que é bonito, sabe? Então crio coragem e digo o que sempre quis que você soubesse: que você existe em mim desde o primeiro beijo com gosto de Bubbaloo sabor morango aos 13 anos no campinho de futebol do clube. Então a gente se abraça num abraço tão apertado como que pra sentir a nossa metade perdida, como que pra se completar. E nesse momento nada mais importa, tudo parece simples, tudo volta a ter sentido. Perdidos nos braços um do outro, a gente esquece da vida ou se lembra de como ela pode ser boa. Mas as pessoas nos chamam pra voltar à festa, o sonho vai chegando ao fim. É o destino, dando o seu jeito de nos dizer que é hora de voltar à realidade. E ao me lembrar da sua felicidade no início da noite, antes de ouvir meu turbilhão de sentimentos, felicidade que me pareceu tão sincera, percebo que é hora de desistir. Com tudo o que acontece em nossas vidas nesse momento, que chance temos nós, meu bem? Com você ainda mais vivo dentro de mim, jogo a toalha. Mas nada em mim foi covarde, pelo menos não dessa vez. Ainda que não pareça, desistir foi meu maior ato de bravura.

Um comentário:

  1. Eu juro que sou apaixonada pelos textos deste blog. Essa "sinceridade" ao encarar a realidade, a visão de cada uma e os sentimentos mais íntimos estão presentes em cada palavra e eu adoro isso.

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gritos histéricos