sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Ele faz cinema

Ele faz cinema, ele é demais. Com suas viagens mil pela América Latina e mundo afora. Com seu conhecimento de culinária e seus documentários. Cursos em Cuba e jazz, muito jazz. Mas ele estava ali um dia depois de você me perguntar se éramos um e eu estava ali provando para mim mesma o meu medo de ser uma só com você.

Era preciso negar, e ele é a minha negação de você. E então eu falo sem parar, contando histórias e fingindo me interessar por qualquer coisa. Ele faz cinema, e vota no Serra. Quer estudar em Amsterdã, é a favor da legalização e tem uma risada interessante, mas nada se compara ao seu sorriso inigualável com seu dente lascado. E ele me faz rir, às vezes (ou eu me obrigo a isso também apenas para não gastar uma noite e perder a aposta comigo mesma?). E eu continuo falando o tempo todo, muito mais do que me atrevo a falar quando estou com você. Até os silêncios aparecerem, e eu ficar olhando ao redor, já sentindo sua falta. E então menciono você, para te sentir mais perto, para lembrar de uma de suas piadas, a reproduzo, tentando fazer com que você apareça na mesa, tentando fazer com que a conversa tenha graça, como só tem quando você está por perto.

E continuo ali, me perguntando o que será que ele teria a me oferecer. Será que eu conseguiria continuar ali? Mas não sinto nada ali, sou uma pedra que não absorve a conversa e vez ou outra dá um sorriso. Procuro nos dele, os seus olhos, mas eles me enxergam apenas ali, não procuram a minha alma como os seus.

Vamos embora então, quero dormir na cama que ainda tem o seu cheiro. Fiz questão de não trocar os lençóis para poder voltar para você no fim da noite e te abraçar, sonhar com você. Mesmo sendo preocupante, penso agora que talvez isso não importe mais, mas não preciso te contar, não preciso saber de você.

E ainda numa última tentativa, procuro no beijo dele o seu, por alguns minutos, até abrir os olhos, já desistindo. Foi uma noite linda, e eu não precisava estar com você, mas também não queria estar com mais ninguém.

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